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Parece que a
ficção e a ciência não estão tão distantes assim. Esse interessante
artigo foi publicado na edição de Fevereiro de 2005 da Revista Prospect
Magazine,
narrando como a humanidade poderia viajar através de uma FENDA ESPACIAL
"Wormhole", isso mesmo o Universo Ficcional de Jornada Nas Estrelas,
cada vez mais está se mostrando o futuro viável e possível para nossa
humanidade.
Segundo o
artigo, que fala até em nano-tecnologia, o universo está fadado a terminar.
Antes que isso ocorra, uma civilização avançada, leia-se com capacidade
de vôos interplanetários, seria capaz de escapar para um universo
paralelo através de um "buraco de minhoca" (Fenda Espacial)? A idéia
parece ser apenas de ficção científica, mas é consistente com as atuais
leis da física e da biologia. Vejam como a futura humanidade pode
realizar essa proeza. O artigo foi traduzido para o site do UOL por
Danilo Fonseca.
APROVEITEM!!!
Cap. MDaniel
USS Venture NCC 71854
O universo vai acabar; saiba
como a ciência nos permite uma fuga espetacular
Por Michio Kaku
Especial para a
Revista Prospect
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O universo está descontrolado,
expandindo-se aceleradamente. Um dia, toda a vida inteligente enfrentará
o destino derradeiro: o grande congelamento. E uma civilização avançada
teria que embarcar na viagem final: a fuga para um universo paralelo.
Na mitologia norueguesa, o Ragnarok, ou "crepúsculo dos deuses", começa
quando a Terra é vítima de uma terrível onda de frio. O próprio céu
congela, e os deuses perecem em grandes batalhas travadas contra
serpentes malignas e lobos assassinos. A escuridão eterna cai sobre a
Terra exposta e congelada, enquanto o Sol e a Lua são devorados. Odin, o
pai de todos os deuses, finalmente cai moribundo, e o próprio tempo
pára.
Será que essa antiga lenda prevê o nosso futuro? Desde o trabalho de
Edwin Hubble na década de 20, os cientistas sabem que o universo se
expande, mas a maior parte deles acreditava que o processo de expansão
se desacelerava à medida que o universo envelhecia.
Em 1998, astrônomos do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley e da
Universidade Nacional Australiana calcularam o ritmo da expansão,
estudando dezenas de poderosas explosões de supernovas em galáxias
distantes, eventos capazes de iluminar o universo inteiro. Eles não
acreditaram nos seus próprios dados.
Alguma força desconhecida fazia com que as galáxias se distanciassem
umas das outras, o que implicava na aceleração da expansão do universo.
Brian Schmidt, um dos líderes do grupo, conta: "Eu fiquei balançando a
cabeça, sem acreditar, mas havíamos checado tudo. Relutei em dar a
notícia a outras pessoas, porque acreditei sinceramente que seríamos
massacrados".
Os físicos correram aos seus quadros-negros e perceberam que alguma
"energia escura" de origem desconhecida, similar à "constante
cosmológica" de Einstein, estava agindo como uma força antigravitacional.
Aparentemente, o próprio espaço vazio contém energia escura repulsora em
quantidade suficiente para explodir o universo. Quanto mais o universo
se expande, mais energia escura existe para fazer com que ele se expanda
ainda mais rapidamente, levando a um modelo exponencial de escape.
Em 2003, esse resultado surpreendente foi confirmado pelo satélite WMAP
(sigla em inglês de Sonda Wilkinson de Medida da Anisotropia em
Microondas). Girando em uma órbita localizada a cerca de 1,6 milhão de
quilômetros da Terra, esse satélite é equipado com dois telescópios
capazes de detectar a débil radiação de microondas que permeia o
universo.
Ele é tão sensível que é capaz de fotografar detalhadamente o brilho
residual da radiação de microondas deixada pelo bigue-bangue, que ainda
circula pelo universo. O satélite WMAP, de fato, nos forneceu "fotos de
bebê", de uma época na qual o universo tinha apenas 380 mil anos de
idade.
O satélite resolveu a antiga questão referente à idade do universo: ele
tem oficialmente 13,7 bilhões de anos (a margem de erro da estimativa é
de 1%). Mas o mais notável é que os dados mostraram que a energia escura
não é uma ocorrência fortuita, mas que compõe 73% da matéria e da
energia de todo o universo.
Para tornar o mistério ainda mais profundo, os dados revelaram que 23%
do universo consistem de "matéria escura", uma forma bizarra de matéria
que é invisível mas que ainda possui peso. Hidrogênio e hélio
correspondem a 4%, do universo, e os elementos mais pesados, você e eu
incluídos, a apenas 0,03%. A energia escura e a maior parte da matéria
escura não consistem de átomos, o que significa que, ao contrário
daquilo no qual os antigos gregos acreditavam e àquilo que é ensinado em
todo curso de química, a maior parte do universo não é composta de
átomos.
À medida que o universo se expande, o seu conteúdo de energia se dilui e
sua temperatura despenca para valores próximos ao zero absoluto, quando
os átomos deixam de se mover.
Uma das leis incontornáveis da física é a segunda lei da termodinâmica,
que afirma que no fim tudo descamba para a decadência, que a "entropia"
(desordem ou caos) total no universo sempre aumenta. Isso significa que
o ferro sofre oxidação, nossos corpos envelhecem e desmoronam, impérios
caem, estrelas exaurem seu combustível nuclear, e o próprio universo
acaba, à medida que as temperaturas descerem uniformemente rumo ao zero
absoluto.
Charles Darwin se referia a essa lei quando escreveu: "Acreditando, como
eu acredito, que o homem em um futuro distante será bem mais perfeito do
que aquela criatura que atualmente é, para mim é intolerável pensar que
tanto ele quanto todos os outros seres conscientes estão condenados à
completa aniquilação, depois de experimentar um progresso lento e de
longa continuidade".
E uma das passagens mais deprimentes da língua inglesa foi escrita por
Bertrand Russel, que descreveu o "desespero irredutível" que sentiu ao
pensar no futuro distante: "Nenhum fogo, heroísmo ou intensidade de
pensamento ou sentimento é capaz de preservar uma vida para além da
sepultura.
Todos os trabalhos de eras, toda a devoção, toda a inspiração, todo o
brilho intenso do gênio humano, estão condenados à extinção na vasta
morte do sistema solar; e todo o templo das realizações humanas terá
inevitavelmente que ser enterrado sob os destroços de um universo em
ruínas".
Russel escreveu essa passagem em uma era anterior às viagens espaciais.
Atualmente, a morte do sol não parece tão catastrófica, mas o fim do
universo inteiro parece ser inevitável. Assim, em algum dia de um futuro
distante, a última estrela deixará de brilhar, e o universo estará
repleto de detritos nucleares, estrelas de nêutrons mortas e buracos
negros.
Civilizações inteligentes, como moradores de rua esfarrapados,
amontoados em volta de uma fogueira que se apaga, se reunirão em torno
das últimas centelhas tremulantes oriundas de buracos negros emitindo
uma débil radiação de Hawking.
A teoria das cordas seria a salvação?
Embora a termodinâmica e a cosmologia apontem para a morte inevitável de
todas as formas de vida no universo, ainda existe uma esperança.
Trata-se de uma lei da evolução que preconiza que, quando o ambiente
muda radicalmente, a vida tem que se adaptar, fugir ou morrer. A
primeira alternativa parece ser impossível. A última é indesejável. Isso
nos deixa com apenas uma escolha: fugir do universo.
Embora o conceito de abandonar o nosso universo moribundo para adentrar
um outro pareça ser uma loucura total, não existe nenhuma lei da física
que impeça a entrada em um universo paralelo. A teoria da relatividade
geral de Einstein dá margem à existência de "buracos de minhoca" (Fendas
Espaciais), ou portais que conectam universos paralelos, por vezes
chamados de "pontes de Eintein-Rosen". Mas ainda não se sabe se as
correções quânticas permitiriam a realização de tal jornada.
Embora no passado tenha sido considerado uma idéia absurda, o conceito
do "multiverso" --ou seja, que o nosso universo coexiste com um número
infinito de universos paralelos-- gerou recentemente grande interesse em
meio a físicos de várias tendências. Primeiro, a principal teoria
consistente com os dados do WMAP é a teoria "inflacionária", proposta
por Alan Guth, do MIT, em 1979.
Ela postula uma expansão turbinada do universo no início dos tempos. A
idéia do universo inflacionário explica elegantemente vários mistérios
cosmológicos persistentes, incluindo o achatamento e a uniformidade do
universo.
Mas, considerando que os físicos ainda não sabem o que motivou esse
processo inflacionário rápido, ainda existe a possibilidade de que isso
possa ocorrer novamente, em um ciclo interminável. Essa é a idéia
inflacionária caótica de Andrei Linde, da Universidade Stanford, segundo
a qual de "universos pais" brotam "universos bebês", em um ciclo
contínuo e eterno. Assim como bolhas de sabão que se dividem em duas
bolhas menores, os universos podem brotar constantemente de outros
universos.
Mas o que causou o bigue-bangue e motivou tal inflação? Essa pergunta
continua sem resposta. Considerando que o bigue-bangue foi um fenômeno
tão intenso, temos que abandonar a teoria da relatividade geral de
Einstein, que forma a estrutura subjacente de toda a cosmologia. A
teoria da gravidade de Einstein surge no instante do bigue-bangue, e
portanto não é capaz de responder às profundas questões filosóficas e
teológicas geradas por aquele evento.
Em se tratando dessas temperaturas incríveis, precisamos incorporar a
teoria quântica --a outra grande teoria que emergiu no século 20--, que
governa a física do átomo.
A teoria quântica e a teoria da relatividade de Einstein são opostas. A
primeira governa o mundo do muito pequeno, o peculiar reino subatômico
dos elétrons e quarks. Já a teoria da relatividade governa o mundo do
muito grande --dos buracos negros e dos universos em expansão.
Portanto, a relatividade não é apropriada para explicar o instante do
bigue-bangue, no qual o universo era menor do que uma partícula
subatômica. Naquele momento seria de se esperar que os efeitos da
radiação suplantassem os da gravidade, e, sendo assim, precisamos de uma
descrição quântica da gravidade. De fato, um dos maiores desafios para
os físicos é unificar essas teorias em uma teoria única e coerente de
todas as forças do universo.
Atualmente os físicos estão procurando por essa "teoria de tudo". Várias
propostas foram feitas no decorrer dos últimos 50 anos, mas todas se
revelaram inconsistentes ou incompletas. Até o momento, a principal
candidata (na verdade, a única) é a teoria das cordas.
A mais recente encarnação da teoria das cordas, a teoria-M, pode
responder a uma questão que há séculos confunde os defensores das
dimensões superiores: onde estão essas dimensões? A fumaça é capaz de se
expandir e de preencher uma sala inteira, sem entretanto se desvanecer
no hiperespaço.
Sendo assim, as dimensões superiores, se é que existem, devem ser
menores do que um átomo. Se o espaço de dimensões superiores fosse maior
do que um átomo, deveríamos ver os átomos penetrando e desaparecendo
misteriosamente em uma dimensão mais elevada, algo que não observamos no
laboratório.
Na velha concepção de teoria das cordas, era necessário "enrolar" ou
dobrar seis de dez dimensões originais, para que sobrasse o atual
universo tetradimensional. Essas dimensões indesejáveis eram compactadas
em uma minúscula bola (denominado espaço Calabi-Yau), demasiadamente
pequena para ser observada.
Mas a teoria-M acrescenta uma novidade a esse quadro: o tamanho de
algumas dessas dimensões superiores pode ser grande, ou mesmo infinito.
Imagine duas folhas paralelas de papel. Se uma formiga vivesse em cada
uma das folhas, cada um dos insetos veria a sua folha como sendo todo o
universo, sem saber da existência de um outro universo vizinho. De fato,
o outro universo seria invisível.
Cada formiga levaria a sua vida sem saber da existência de um outro
universo a apenas alguns centímetros de distância. De maneira similar, o
nosso universo pode ser uma membrana flutuando em um hiperespaço de 11
dimensões, e pode ser que desconheçamos a existência dos universos
paralelos que flutuam nas nossas vizinhanças.
Uma versão interessante da cosmologia da teoria-M é o universo "ekpirótico"
(derivado da palavra grega para "conflagração"), proposto por Paul
Steinhardt, Burt Ovrut e Neil Turok. Segundo essa concepção um universo
é uma membrana achatada e infinita flutuando em um espaço
multidimensional.
Mas, ocasionalmente, a gravidade atrai uma membrana vizinha. Cada um
desses universos paralelos se desloca velozmente na direção do outro até
colidirem, liberando uma quantidade colossal de energia. Essa explosão
cria o nosso universo conhecido e faz com que os dois universos
paralelos sejam arremessados em direções opostas do hiperespaço.
Procurando dimensões superiores
O interesse intenso pelas dimensões superiores, gerado pela teoria das
cordas, se infiltrou lentamente no mundo da física experimental.
Conversas mantidas durante jantares acabaram por se traduzir em
experiências multimilionárias de física.
Na Universidade do Colorado em Denver, foi realizada a primeira
experiência para a procura de um universo paralelo, talvez localizado a
apenas milímetros de distância. Os físicos procuraram por minúsculos
desvios da lei de Newton do inverso do quadrado da distância para a
gravidade.
A luz de uma vela se dilui à medida que se dispersa, diminuindo segundo
o inverso do quadrado da distância da sua fonte. De forma similar,
segundo a lei de Newton, a gravidade também se dispersa pelo espaço e
diminui da mesma maneira.
Mas em um universo tetradimensional é maior o campo no qual a luz e a
gravidade se disseminam, de forma que os valores decrescem segundo o
cubo da distância. Assim, ao procurar por desvios ínfimos da lei do
inverso do quadrado, é necessário determinar a presença da quarta
dimensão.
A lei de Newton do inverso do quadrado é tão precisa que é capaz de
guiar as nossas sondas espaciais através do sistema solar. Mas ninguém
sabe se ela funciona em uma escala milimétrica.
Até o momento, tais experiências não deram nenhum resultado. Outros
grupos estão buscando desvios ainda menores. Físicos da Universidade
Purdue, em Indiana, procuram testar a lei no nível atômico, utilizando a
nanotecnologia.
Outras possibilidades também são exploradas. Em 2007, o acelerador de
partículas de alta energia LHC (Large Hadron Collider), capaz de
bombardear partículas subatômicas com uma energia colossal de 14
trilhões de elétron-volts (uma energia dez trilhões de vezes maior do
que a de uma reação química típica), será ativado próximo a Genebra.
Essa máquina enorme, que é o maior fragmentador de átomos do mundo,com
uma circunferência de 27 quilômetros, localizada na fronteira entre
França e Suíça, trabalhará com dimensões dez mil vezes menores do que a
de um próton. Os físicos esperam descobrir todo um grupo novo de
partículas subatômicas que não aparecem desde o bigue-bangue.
Eles prevêem que o LHC poderá criar partículas exóticas como mini
buracos negros e partículas supersimétricas, apelidadas de "spartículas",
que fornecerão evidências indiretas para apoiar a teoria das cordas.
Segundo essa teoria, toda partícula possui uma super-parceira. O
parceiro de um elétron é um "selétron", o de um quark um "squark", e
assim por diante.
Além do mais, por volta de 2012, o detector de ondas gravitacionais Lisa
(sigla em inglês de Antena Espacial de Interferômetro a Laser) será
colocado em órbita. O Lisa será capaz de detectar as ondas
gravitacionais de choque emitidas menos de um trilionésimo de segundo
após o bigue-bangue.
Ele consistirá de três satélites orbitando o Sol, conectados por feixes
de laser, formando um grande triângulo espacial no qual cada lado terá
cinco milhões de quilômetros. Qualquer onda gravitacional que atingir o
Lisa perturbará os lasers, e essa pequena distorção será captada por
instrumentos, assinalando a colisão de dois buracos negros ou a própria
onda de choque do bigue-bangue.
O Lisa é tão sensível --é capaz de medir distorções da ordem de um
décimo do diâmetro de um átomo-- que poderá testar vários dos cenários
propostos para o universo pré-bigue-bangue, incluindo a teoria das
cordas.
Passos para deixar o
universo
Infelizmente, a energia necessária para manipular essas dimensões mais
altas, em vez de apenas observá-las, fica bem além de qualquer recurso
que estará à nossa disposição em um futuro visível: 1019 bilhões de
elétron-volts, ou um quadrilhão de vezes a energia do LHC. Para
operações em tal escala é necessária a tecnologia de uma civilização
super avançada.
A fim de organizar uma discussão a respeito de civilizações
extraterrestres avançadas, os astrofísicos utilizam freqüentemente a
classificação de civilizações dos tipos I, II e III, introduzida pelo
astrofísico russo Nikolai Kardashev nos anos 60, que categorizou tais
civilizações segundo níveis de consumo de energia.
Poderia-se esperar que uma civilização Tipo III, utilizando toda a
capacidade dos seus inimagináveis recursos galácticos, fosse capaz de
escapar do grande congelamento. Os corpos dos cidadãos de tal
civilização, por exemplo, poderiam ser geneticamente alterados e os seus
órgãos substituídos por implantes computadorizados, representando uma
fusão sofisticada de tecnologias de silício e carbono.
Mas até mesmo esses corpos super-humanos não sobreviveriam ao grande
congelamento. Isso porque nós definimos inteligência como sendo a
capacidade de processar informação. Segundo os físicos, todas as
máquinas, sejam computadores, foguetes, locomotivas ou máquinas a vapor,
dependem em última instância da extração da energia dos diferenciais de
temperatura: as máquinas a vapor, por exemplo, trabalham por meio da
extração de energia da água em ebulição.
Mas o processamento de informações, e, por conseguinte, a inteligência,
exige energia fornecida por máquinas e motores, algo que se torna
impossível quando os diferenciais de temperatura caem para zero .
Segundo as leis da física, em um universo uniformemente gelado, onde
inexistam diferenças de temperatura, a vida inteligente não poderia
sobreviver.
Mas considerando que provavelmente faltam ainda bilhões ou trilhões de
anos para o grande congelamento, existe tempo para que uma civilização
do Tipo III elabore a única estratégia consistente com as leis da
física: fugir deste universo. Para fazer tal coisa, uma civilização
avançada teria primeiro que descobrir as leis da gravidade quântica, que
podem ou não vir a ser a teoria das cordas.
Essas leis serão cruciais para o cálculo de vários fatores
desconhecidos, tais como a estabilidade dos buracos de minhoca (Fendas
Espaciais) que nos conectam a universos paralelos, e a maneira como
saberemos qual será o aspecto de tais mundos paralelos. Antes de
saltarmos para o desconhecido, precisamos saber o que existe do outro
lado. Mas como dar tal salto? Eis aqui algumas maneiras:
Encontrar um buraco de minhoca (Fenda
Espacial) criado por causas naturais
Uma civilização avançada que
colonizou a galáxia pode ter se deparado durante as suas explorações
passadas com resíduos exóticos primordiais do bigue-bangue. A expansão
original foi tão rápida e explosiva que até mesmo buracos de minhoca
(Fendas Espaciais) diminutos podem ter sido estendidos e violentamente
expandidos até adquirirem dimensões macroscópicas. Buracos de minhoca
(Fendas Espaciais), cordas cósmicas, matéria negativa, energia negativa,
falsos vácuos e outras criaturas exóticas da física podem ser relíquias
deixadas pela criação.
Mas se esses portais surgidos devido a causas naturais não forem
encontrados, a civilização precisará tomar medidas mais complexas e
árduas.
Enviar uma sonda através de um buraco
negro
Atualmente sabemos que os buracos
negros são abundantes; existe um deles assentado no centro da nossa
galáxia, dotado de uma massa aproximada de três milhões de sóis. Sondas
enviadas através de um buraco negro poderiam esclarecer algumas questões
não resolvidas. Em 1963, o matemático Roy Kerr demonstrou que um buraco
negro que gire rapidamente não entraria em colapso até se transformar em
um mero ponto. Em vez disso se tornaria um anel rotatório, impedido de
entrar em colapso gravitacional devido às forças centrífugas.
Todo buraco negro é cercado por um horizonte de eventos, ou ponto de não
retorno: a passagem pelo horizonte de eventos é uma viagem sem volta. É
de se imaginar que para uma viagem de ida e volta seriam necessários
dois desses buracos negros. Mas para uma civilização avançada fugindo do
grande congelamento uma viagem só de ida seria o bastante.
O que acontece com alguém que passa pelo anel de Kerr ainda é um assunto
que gera polêmicas. Alguns acreditam que o ato de entrar em um buraco de
minhoca (Fenda Espacial) faria com que este se fechasse, tornando-se
instável. E a luz que caísse em um buraco negro seria desviada para o
azul, criando a possibilidade de que quem passasse para um universo
paralelo fosse literalmente fritado.
Ninguém sabe ao certo, e por isso é necessário que se façam
experiências. Essa controvérsia esquentou no ano passado quando Stephen
Hawking admitiu que cometeu um erro 30 anos atrás, quando apostou que os
buracos negros devoram tudo, incluindo informação. Talvez a informação
seja esmagada para sempre, ou talvez ela passe para o universo paralelo
no outro lado do anel de Kerr. Segundo a mais recente idéia de Hawking a
informação não se perde totalmente. Mas ninguém acredita que tenha sido
proferida a palavra final a respeito dessa questão delicada.
Para obter dados extras a respeito de espaços-tempos estendidos até o
ponto de ruptura, uma civilização avançada precisaria criar um "buraco
negro lento". Em 1939, Einstein analisou a massa rotatória de restos
estelares que passavam por um lento processo de colapso gravitacional.
Embora Einstein tenha demonstrado que essa massa rotatória não entraria
em um colapso que resultasse em um buraco negro, uma civilização
avançada poderia duplicar esse experimento em "câmera lenta", coletando
uma porção giratória de estrelas de nêutrons com massa menor do que a de
cerca de três sóis.
A seguir, injetar-se-ia gradualmente nessa massa um material estelar
extra, forçando-a a entrar em colapso gravitacional. Ao invés de
progredir no processo de colapso até se tornar um ponto, a massa estelar
se transformaria em um anel, possibilitando assim que os cientistas
testemunhassem a formação de um buraco negro de Kerr em câmera lenta.
Criar energia negativa
Caso os anéis de Kerr se mostrem demasiadamente instáveis ou letais,
poder-se-ia também cogitar em abrir buracos de minhoca (Fendas
Espaciais) por meio de matéria e energia negativas. Em 1988, Kip Thorne
e os seus colegas do Instituto de Tecnologia da Califórnia demonstraram
que se alguém contasse com matéria ou energia negativas em quantidade
suficiente, poderia usá-las para a criação de um buraco de minhoca "atravessável"
--um buraco de minhoca (Fenda Espacial) pelo qual se pudesse passar
livremente em uma viagem de ida e volta entre o laboratório e um ponto
distante no espaço (e até no tempo). A matéria e a energia negativas
seriam suficientes para manter a entrada do buraco de minhoca (Fenda
Espacial) aberta para tal viagem.
Infelizmente, ninguém jamais viu a matéria negativa. Em princípio, ela
deveria pesar menos que o nada e cair para cima, em vez de para baixo.
Mesmo que ela existisse quando a Terra foi criada, teria sido repelida
pela gravidade terrestre e deslocado-se para o espaço.
Porém, a energia negativa foi vista em laboratório na forma do efeito
Casimir. Normalmente, a força existente entre duas placas paralelas
descarregadas deveria ser zero.
Mas se flutuações quânticas fora das placas fossem maiores do que as
flutuações entre as placas, uma força resultante de compressão seria
criada. As flutuações que empurram as placas a partir de fora são
maiores do que as flutuações que as empurram para fora a partir dos seus
interiores, de forma que essas placas descarregadas se atraem
mutuamente.
Esse fenômeno foi previsto pela primeira vez em 1948 e registrado em
1958. No entanto, a energia Casimir é minúscula, sendo inversamente
proporcional à distância entre as placas elevada à quarta potência.
Para a utilização do efeito Casimir seria necessária uma tecnologia
avançada para comprimir essas placas até que a separação entre elas
fosse extremamente pequena. Se essas placas paralelas fossem remodeladas
em formato de uma esfera de duas camadas, e se grandes quantidades de
energia fossem utilizadas para comprimir as duas placas esféricas uma
contra a outra, poderia ser gerada uma quantidade suficiente de energia
negativa para que o interior da esfera se separasse do resto do
universo.
Uma outra fonte de energia de negativas é o raio laser. Pulsos de
energia laser contém "estados comprimidos", que são dotados tanto de
energia negativa quanto de positiva. O problema é separar a energia
negativa da positiva dentro de um feixe de laser.
Embora isso seja teoricamente possível, trata-se de algo extremamente
difícil. Se uma civilização sofisticada fosse capaz de fazê-lo, então
poderosos raios laser poderiam gerar energia negativa suficiente para
que a esfera se descolasse do restante do universo.
Até mesmo buracos negros possuem energia negativa a sua volta, nas
proximidades dos seus horizontes de eventos. Em princípio, isso poderia
gerar grandes quantidades de energia negativa. No entanto, os problemas
técnicos relacionados à extração de energia negativa tão perto de um
buraco negro são extremante complexos.
Criar um universo bebê
Segundo a inflação, apenas algumas gramas de matéria seriam suficientes
para a criação de um universo bebê. Isso porque a energia positiva da
matéria anularia a energia negativa da gravidade. Se o universo fosse
fechado, elas se anulariam em proporções exatas. De certa forma, o
universo pode ser uma espécie de refeição gratuita, conforme enfatizou
Guth. Por mais estranho que pareça, não é necessária nenhuma energia
externa para a criação de um universo inteiro.
Os universos bebês são em princípio criados naturalmente quando uma
certa região do espaço-tempo se torna instável e entra em um estado
chamado de "falso vácuo", que desestabiliza a composição do
espaço-tempo. Uma civilização avançada poderia fazer tal coisa
deliberadamente ao concentrar energia em uma única região. Isso exigiria
a compressão de matéria até uma densidade de 1080 g/cm3, ou que ela
fosse aquecida até uma temperatura de 1029 graus Kelvin.
Para a criação das condições fantásticas necessárias à abertura de um
buraco de minhoca com energia negativa, ou à criação de um falso vácuo
com energia positiva, talvez fosse necessário um "esmagador cósmico de
átomos".
Os físicos estão tentando construir "aceleradores de mesa" que poderiam,
a princípio, gerar bilhões de elétron-volts em uma mesa de cozinha. Eles
utilizaram poderosos raios laser para conseguir uma energia de
aceleração de 200 bilhões de elétron-volts por metro, um novo recorde.
O progresso é rápido, e a energia obtida aumenta dez vezes a cada cinco
anos. Embora problemas técnicos ainda impeçam a criação de um verdadeiro
acelerador de mesa, uma civilização avançada conta com bilhões de anos
para aperfeiçoar esse e outros artefatos.
Para atingir a energia de Planck (1028 eV) com essa tecnologia de laser
seria necessário um esmagador de átomos com um comprimento de dez anos
luz, uma distância maior do que a que nos separa da estrela mais
próxima, algo que poderia estar muito bem ao alcance tecnológico de uma
civilização do Tipo III.
Considerando que o vácuo do espaço vazio é melhor do que qualquer vácuo
conseguido na Terra, talvez não fosse necessária uma tubulação com
anos-luz de comprimento para conter o feixe de partículas subatômicas.
Este poderia ser disparado no espaço vazio. Estações de força
precisariam ser instaladas ao longo da trajetória para bombear energia
laser no feixe e focalizá-lo.
Uma outra possibilidade seria curvar a trajetória em um círculo, de
forma que ela coubesse no sistema solar. Magnetos gigantes poderiam ser
instalados em asteróides a fim de curvar e focar o feixe em uma
trajetória circular em torno do Sol.
O campo magnético necessário para curvar o feixe seria tão grande que a
passagem de energia pelas bobinas poderia derretê-las, o que significa
que talvez só pudessem ser utilizadas uma única vez. Após a passagem do
feixe, as bobinas derretidas teriam que ser descartadas e substituídas a
tempo para a próxima passagem.
Construir uma máquina de implosão a
laser
Em princípio, seria possível criar raios laser de energia ilimitada; os
únicos empecilhos são a estabilidade do material e a fonte de energia.
No laboratório, os lasers de terawatt (um trilhão de watts) atualmente
são comuns, e os de petawatt (um quadrilhão de watts) estão se tornando
lentamente factíveis (a título de comparação, uma usina nuclear
comercial gera apenas um bilhão de watts de energia contínua).
É possível até pensar em um raio-X laser alimentado pela liberação de
energia de uma bomba de hidrogênio, que poderia inserir uma quantidade
inimaginável de energia no feixe de radiação. No Laboratório Nacional
Lawrence Livermore, uma bateria de lasers é disparada radialmente contra
um pequeno fragmento de um composto de deutério e lítio, o ingrediente
ativo da bomba de hidrogênio, a fim de domar o poder de uma fusão
termonuclear.
Uma civilização avançada poderia criar enormes estações de laser nos
asteróides e, a seguir, disparar milhões de raios laser contra um único
ponto, criando temperaturas e pressões extremas, atualmente
inimagináveis.
Enviar um nano-robô para
recriar a civilização
Se os buracos de minhoca (Fendas Espaciais) criados segundo os passos
anteriormente descritos forem muito pequenos, instáveis, ou se os
efeitos da radiação forem demasiadamente intensos, então talvez se
pudesse enviar apenas partículas de dimensões atômicas através de um
buraco de minhoca (Fenda Espacial). Nesse caso, a civilização poderia
adotar a derradeira solução: enviar uma "semente" de dimensões atômicas
pelo buraco de minhoca, capaz de regenerar a civilização do outro lado.
Esse processo é comumente encontrado na natureza. A semente de um
carvalho, por exemplo, é compacta, rugosa e elaborada para sobreviver a
uma longa jornada e para sobreviver fora da terra. Ela também contém
todas as informações genéticas necessárias para a regeneração da árvore.
Uma civilização avançada poderia querer enviar informação suficiente
pelo buraco de minhoca para a criação de um "nano-robô", uma máquina de
dimensões atômicas auto-replicadora, construída com nanotecnologia. Ele
seria capaz de viajar a uma velocidade próxima a da luz porque teria o
tamanho de uma molécula. O artefato pousaria em uma lua árida e a seguir
utilizaria a matéria-prima encontrada para criar uma fábrica química
capaz de gerar milhões de cópias da máquina microscópica.
Uma legião desses robôs viajaria a seguir para outras luas em outros
sistemas planetários e criaria novas fábricas químicas. Esse processo se
repetiria muitas vezes, criando milhões e milhões de cópias do robô
original. Começando a partir de um único robô, haveria uma esfera de
trilhões de tais sondas-robôs se expandindo a uma velocidade próxima a
da luz, colonizando toda a galáxia.
(Essa foi a base para o filme "2001: Uma Odisséia no Espaço",
provavelmente a descrição ficcional mais cientificamente precisa de um
encontro com uma forma de vida extraterrestre. Ao invés do encontro com
discos voadores ou com a USS Enterprise, a possibilidade mais realista é
a de que façamos contato com uma sonda robô deixada na Lua por uma
civilização do Tipo III que esteve por aqui de passagem. Esse processo
foi descrito por cientistas nos minutos iniciais do filme, mas Stanley
Kubrick cortou as entrevistas da edição final).
A seguir, essas sondas-robôs criariam grandes laboratórios de
biotecnologia. As seqüências de DNA dos criadores das sondas teriam sido
cuidadosamente gravadas, e os robôs seriam projetados para injetar essa
informação em incubadoras, que a seguir clonariam toda a espécie. Uma
civilização avançada poderia também codificar personalidades e memórias
dos seus habitantes e inseri-las nos clones, permitindo que toda a raça
reencarnasse.
Embora pareça fantástico, esse cenário é consistente com as leis
conhecidas da física e da biologia, e está ao alcance de uma civilização
do Tipo III. Não há nada nas leis da ciência que impeça a regeneração de
uma civilização avançada a partir do nível molecular. Para uma
civilização moribunda aprisionada em um universo em processo de
congelamento, essa poderia ser a última esperança.
Tradução Para o UOL:
Danilo
Fonseca
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